quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

FANTASMAS ANDINOS


Durante a Taça Libertadores da América de 2007, o Flamengo fora jogar contra o Real Potosí da Bolívia. O estádio do clube boliviano se localiza na cidade de Potosí, a quase 4000 mts de altitude. De nada adiantou toda a preparação high-tech feita pelo clube para seus atletas encararem este esforço sobre-humano. O resultado não poderia ter sido outro. Um tremendo sufoco para empatar com o medíocre Real Potosí, e jogadores rubro-negros derrubados pelo mal da altitude. O vestiário depois do jogo parecia um campo de batalha depois da peleja. Além de jogadores que precisaram de fazer uso do balão de oxigênio mesmo durante a partida, outros sofreram males de toda sorte, como alucinações, enjôos, e tudo mais que a hostil cordilheira andina tem a oferecer para quem se aventura a praticar futebol por lá.

Após a partida, o dirigente rubro-negro Kleber Leite asseverou que o Flamengo jamais se submeteria a jogar numa altitude como aquela, e que o clube tomaria até WO, pois não compareceria a nenhuma partida de competições sul-americanas marcadas em tais condições. É obvio que soou para todo mundo como pura bravata. As punições que o Flamengo receberia no caso seriam graves, como multa de 100 mil dólares e suspensão pelas próximas três edições da competição. Mas as razões do dirigente eram mais do que legítimas, segundo a mais moderna medicina esportiva.

Em outubro do mesmo ano, após um seminário médico realizado pela FIFA em Zurique, a entidade decidiu que para partidas pelas eliminatórias de seleções para a próxima Copa do mundo, o limite de altitude do local sede dos jogos deveria ser de 2750 mts de altitude. Participou deste seminário, o Dr. Seraphim Borges, cardiologista do Flamengo e da seleção brasileira, que expôs um video sobre a experiência vivida pelo clube em Potosí, com depoimentos de jogadores, médicos, preparadores físicos e fisiologistas. Tal exibição, em muito contribuiu para a formação do consenso geral, para se estabelecer um limite seguro para a prática do futebol nas alturas.

Acontece que, surpreendentemente, a FIFA se omitiu no que tange a competições clubísticas, pois sua determinação só valeria para jogos oficiais entre seleções. Surgem várias indagações. Será que atletas de clubes são super-homens, imunes ao mal das alturas ? O que os difere biologicamente de atletas de seleção ? A lembrança que me vem a cabeça, é o caso Serginho do São Caetano. A obrigatoriedade da presença de desfibriladores em estádios de futebol, só começou a ser cumprida à risca no Brasil após a morte do jogador, ressalvando que o atendimento no Morumbi fora perfeito. Será que sempre é preciso esperar algo de trágico acontecer para se tomar algum tipo de precaução ? Vovó já me dizia: “É melhor prevenir do que remediar.”

O Flamengo disputará a Libertadores deste ano. E provavelmente terá em sua chave, o Cienciano de Cuzco no Peru, localizada a cerca de 3400 mts de altitude. É sabido pela medicina esportiva, que a partir dos 3000 mts, o risco de complicações como edemas pulmonar e cerebral já é considerável para a prática de esportes. O clube pediu auxílio a CBF para defender seus interesses e dos demais co-irmãos brasileiros perante a CONMEBOL diante da questão.

A CONMEBOL, de maneira unânime, decidiu apoiar a Bolívia na sua luta por sediar seus jogos na altitude, e reiterou que os clubes andinos poderiam sediar seus jogos pela Libertadores independentemente da localidade.

A omissão da CBF para com os interesse clubísticos não é novidade.

O que também não é novidade, são as denúncias de picaretagem na cúpula petista, e a subserviência que marca o governo Lulla no tocante a relações internacionais. É a política do “abaixa a cabeça pra gringo”. O Ministério das Relações Exteriores, outrora reconhecido internacionalmente por sua competência, foi desmoralizado neste governo. O Barão do Rio Branco deve estar se contorcendo de ódio em sua sepultura. Agora, pasmem, o “Lullinha paz e amor” que o Duda Mendonça inventou, se comprometeu pessoalmente com o presidente Boliviano Evo Morales a se empenhar pela luta boliviana para sediar seus jogos sob o ar rarefeito, em detrimento e prejuízo dos clubes brasileiros e da seleção nacional. Algo parecido, guardadas as devidas proporções, com a postura que Lulla adotou quando a republiqueta andina confiscou as instalações da nossa PETROBRÁS, que tanto investira o dinheiro do contribuinte brasileiro por lá. Lullinha se comprometeu até a telefonar para Joseph Blatter, assegurando que realizaria gestões internacionais para reverter a medida restritiva imposta pela FIFA para os jogos de seleções.

Pobres clubes brasileiros...abandonados por sua confederação...e com o presidente da república atuando a favor dos adversários

2 comentários:

Emerson disse...

Rod, pelo que li num comentário teu para um amigo, você pratica escaladas, certo?

Nesse caso, mais que os outros, você deve saber que os problemas com altitude e, principalmente, os riscos de edemas, só aparecem bem acima da linha de 4.000 metros. Na verdade, eles vão aparecer, timidamente, a partir dos 5.000 metros.

A altitude é ruim e chata, mas muito menos que o calorão nosso em dia de alta umidade relativa. Isso, sim, é muito perigoso.
Nos casos de jogos na altitude, só há registros de desconfortos, sanáveis com uma garrafinha de oxigênio.

É ruim, sim, mas não mata.

:o)

Anônimo disse...

Fala Emerson! Que barato você por aqui. É o primeiro blogueiro do "Jogo Aberto" que aparece. Bom presságio.

Cara, na verdade eu pratico escalada em rocha. Não escalo no gelo nem em alta-montanha. Nunca tive uma experiência acima dos 3000metros. Mas ao escrever o post, me baseei no parecer apresentado no congresso médico da FIFA, e em matéria realizada pelo globoesportes.com sobre o assunto:
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http://globoesporte.globo.com/ESP/Noticia/Futebol/Campeonatos/0,,MUL277252-4277,00.html
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Neste artigo, há o depoimento de um cardilogista brasileiro, que atesta o risco de edemas já a partir dos 3000.

É preciso se considerar que estar sob o ar rarefeito, e jogar futebol sob o ar rarefeito, são coisas bem distintas.

No mesmo artigo, há também a interessante opinião de um médico boliviano, que por dez anos trabalhou na federação de fut. do deu país. Ele, particularmente, não acredita em risco de morte, mas não descarta a possibilidade.

Outro fato a se considerar, que não me aprofundei no post, é o critério esportivo, que muito prejudicado, vem servindo como argumento de equipes sul-americanas que são contra os jogos nestas condições. Detalhe: equipes de países como a prória Bolívia e do Peru.

Um abraço. Rod

Espero encontra-lo por aqui mais vezes